Em um país transformado em um Cartório Geral como o Brasil, setores ineficientes se sentem pressionados com a chegada de novas tecnologias e recorrem a expedientes feudais para manter seu público cativo. Foi essa a intenção da Associação Nacional de Livrarias – ANL em carta divulgada semana passada.
Segundo a Associação, para proteger o setor de uma suposta “concorrência desleal” e manter a rentabilidade gigantesca das editoras é necessária à adoção de medidas pelo Governo. O setor reivindica que:
Seria hilário se não fosse triste. Eles nem pensam em reduzir suas margens de lucro, como bons senhores feidais, mas sim elevar o preço dos livros digitais e até mesmo impedir o acesso dos leitores digitais ao conteúdo antes de 120 dias após o lançamento. Qual seria o próximo passo? A volta da censura?
O Brasil possui um dos livros mais caros do mundo, apesar de contar com uma série de benefícios fiscais diretos e indiretos para a produção e comercialização de livros. Esses benefícios atingem toda a cadeia produtiva e impostos de alçada Federal e Estadual. Portanto, que não venham os livreiros com o discurso de carga tributária no Brasil, porque no caso deles não é esse o caso.
Apesar de todos esses benefícios, ainda temos os livros que figuram entre os mais caros do mundo. Qual o problema então? Simples, uma margem de lucro absurda que é uma verdadeira afronta a um país que precisa cada vez mais investir em tecnologia e conhecimento. Um verdadeiro absurdo.
Não satisfeitos com esse cenário de sonhos para qualquer segmento empresarial, os livreiros feudais agora, diante da chegada da Amazon e dos preparativos do Google para lançar sua plataforma de e-books, querem atrelar os preços dos e-books, ao seus, criando assim um mercado engessado para que eles continuem a praticar margens de lucro jamais vistas em outros países.
Há cerca de duas semanas, comprei um livro sobre SEO aqui no Brasil e paguei R$ 149,00 na Saraiva. O mesmo livro está disponível na Amazon, em formato físico, por U$ 36,97. O e-book está custando U$ 22,79. Existe alguma explicação para isso? Sim, ganância.
Exigir uma regulamentação governamental desse segmento, no sentido de manter os preços dos livros nos patamares absurdos praticados atualmente é passar um atestado de ineficiência e incompetência administrativa. Isso, sem falar na completa irresponsabilidade e falta de compromisso com a cultura e educação das próximas gerações.
Ao que parece, os livreiros nacionais não entenderam nada do que aconteceu com a indústria cinematográfica e de música no mundo inteiro. Isso sem falar na própria indústria do livro no exterior. As tecnologias digitais vieram para ficar, e não adianta bater pezinho ou ficar chorando na porta dos Ministérios. A única opção é se adaptar à nova realidade do mercado. Adiantou fechar o Napster?
O livro físico, apesar dos e-books, jamais vai acabar, pois o hábito da leitura tem um cerimonial em torno do objeto físico, que dará uma sobrevida ao produto. O mercado de livros físicos continuará existindo, só que dentro de uma nova realidade. Ou as empresas se adaptam ou então fecham as portas. Isso, senhores feudais dos livros, chama-se economia de mercado.
Ai invés dos livreiros ficarem clamando por amarras nos preços dos livros e tentando impedir o avanço natural da tecnologia, deveriam sim se ajustar ao mercado realmente competitivo e sem intervenção estatal. O conceito de economia de escala não é tão difícil assim de ser assimilado e é justamente isso que falta ao país. Senhores livreiros feudais, se adaptem ou então fechem as portas. A educação e a cultura do país agradecerão.
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